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10 conhecimentos sobre a doença de Minamata
A doença de Minamata nos ensina como devemos valorizar o meio-ambiente em que vivemos, dar importância para a saúde e a vida humana. Para não repetirmos novamente essa tragédia, não devemos ignorar os fatos da doença de Minamata. Então, é muito importante termos mais informações e conhecimento sobre este assunto. Aqui listamos um breve resumo com as dúvidas mais frequentes sobre a doença.
1. O que é a doença de Minamata?
A Doença de Minamata é um envenenamento por metilmercúrio, causado pela ingestão de grandes quantidades de peixes e mariscos contaminados com resíduos de metilmercúrio, que foram despejados nas águas da baía de Minamata. Não é uma doença contagiosa, mas pode ser herdada. Foi oficialmente identificada em 1956, e em 1968 o governo nacional anunciou que a fábrica Chisso- Ltda. era a principal responsável pela doença.
O metilmercúrio quando entra no organismo, afeta principalmente o cérebro e todo o sistema nervoso, causando problemas como: dormência nos pés e nas mãos, tremor, fraqueza, zunido no ouvido, problemas de visão, danos de audição, dificuldade para pronunciar as palavras com clareza, dificuldades de movimentos corporais entre outros sintomas. Quando a doença de Minamata foi confirmada, algumas pessoas com sintomas mais graves, tiveram convulsões e perda de consciência, o que levou a falecer dentro de 1 mês, devido ao sistema neurológico ter sido afetado.
Além disso, há pacientes com problemas crônicos, com dificuldade nas tarefas da vida diária. Devido aos sintomas como fadiga, falta de paladar e olfato, dores de cabeça e perda de memória. O metilmercúrio ingerido por mulheres grávidas, acabava afetando o bebe (feto) através do cordão umbilical, surgindo casos de crianças com sintomas da doença de Minamata desde seu nascimento. Como nenhuma cura para a doença de Minamata foi descoberta até hoje, são realizados apenas tratamentos sintomáticos e treinamentos funcionais para amenizar cada tipo de sintoma. Além dos danos físicos, também ocorre os danos sociais, como discriminação e preconceito relacionados à doença .
2. O que é metilmercúrio?
Há muito tempo que as pessoas vêm utilizando o mercúrio. E sabe-se que o mercúrio foi utilizado no revestimento de ouro do Grande Buda de Nara, nas composições de remédios do período Edo, e também na fabricação de pó facial branco. Além disso, os locais chamados 'Niu' em várias partes do Japão, representam os lugares onde o mercúrio é usado há muito tempo.
O mercúrio é dividido em: mercúrio inorgânico, mercúrio orgânico, e o mercúrio metálico. O classificado como mercúrio inorgânico, é usado em itens domésticos, como lâmpadas fluorescentes, baterias e termômetros.
O metilmercúrio, que causou a doença de Minamata, é um tipo de mercúrio orgânico. Sua forma é em um pó branco, que cheira a enxofre encontrado em fontes termais. O metilmercúrio é facilmente absorvido pelo trato gastrointestinal e entra no circuito sanguíneo, que é transportado para o fígado e rins, cérebro e para o feto no caso de gestantes. Ele se acumula no organismo, causando grandes danos ao corpo humano.
Em 2017, um acordo ambiental entra em vigor : a Convenção de Minamata, que regulamenta o uso do mercúrio. O tratado internacional restringe a importação e exportação de mercúrio e inclui a transferência da área tecnológica sem o uso de mercúrio, de países desenvolvidos para países em desenvolvimento com assistência financeira.
3. Existe quantos contaminados com a doença de Minamata ?
O número de pessoas afetadas pela doença de Minamata é desconhecido. Sabe-se apenas o número das pessoas que solicitaram socorro e receberam ajuda, e foram certificadas com a doença na prefeitura. Mas esse número não representa as vítimas totais da doença de Minamata. Muitas pessoas morreram antes da confirmação oficial e não puderam solicitar ajuda ou medicações. Muitas pessoas não solicitaram ajuda por vários motivos, então apenas uma pequena proporção das pessoas afetadas recebeu indenização e alívio.
Mais de 17.000 vítimas de Minamata solicitaram a certificação da doença em Kumamoto e Kagoshima. Dentre elas, 2.282 pacientes foram oficialmente reconhecidos pelo governo e 1.930já faleceram ( segundo a data do dia 30 de abril de 1997). Além das vítimas certificadas, o governo também forneceu ajuda financeira às vítimas que não tinham certificado da doença. Em 1995, cerca de 10.000 pessoas foram reconhecidas para receber os benefícios de indenização financeira da empresa Chisso, e foi com base em uma solução do governo para ajudar as vítimas que não tiveram o certificado da doença. Além disso, em Julho de 2009 foi estabelecida com base na Lei de medidas especiais para resolver o problema da doença, a ajuda financeira e a indenização às vítimas. Aproximadamente 45.000 pessoas solicitaram a indenização entre maio de 2010 e julho de 2012.Dentre elas, cerca de 36.000 pessoas foram certificadas pela indenização da Chisso. E na época dessas resoluções políticas, 26.000 pessoas não receberam a indenização, mas receberam redução de gastos com as despesas médicas e hospitalares. Em conjunto, pode-se dizer que cerca de 75.000 pessoas foram oficialmente reconhecidas como contaminadas com os efeitos do mercúrio até hoje.
Além dos contaminados de Minamata proveniente da fábrica Chisso, em 1965 houve um surto da doença causada pela companhia Showa Denko, que usou o mesmo método de fabricação e descarte de material tóxico ao longo do Rio Agano, na província de Niigata. E há também, relatos mundiais com prejuízo à saúde causado pelo mercúrio, proveniente de fábricas no Canadá e na China. E ainda, os relatos de poluição de mercúrio usado no refino de ouro, nos rios e lagos da Amazônia e Tanzânia, tem causado preocupações sobre o impacto no corpo humano.
4. Que tipo de empresa é a Chisso?
No final do período de Meiji (1906), a Chisso foi fundada como uma companhia de hidrelétrica. Utilizando a energia produzida na hidrelétrica, construíram a fábrica de carboneto de cálcio, e assim iniciou a produção de fertilizantes químicos, até se tornar uma importante companhia de produtos químicos do Japão. O crescimento da companhia Chisso,foi significativo para o desenvolvimento da cidade de Minamata. A população da cidade aumentou, e Minamata foi uma das maiores cidades industriais de Kumamoto, chegando o ex-diretor da fábrica Chisso a atuar como prefeito da cidade. A companhia tinha grande influência sobre a região e a dependência da população pela companhia aumentou.
Além de fertilizantes químicos, a Chisso concentrou sua produção de ácido acético, cloreto de vinil e plastificantes, se tornando uma das corporações que sustentam o rápido crescimento econômico do Japão, mesmo após a guerra. Mas, desde o período Taisho (1912-1926), a poluição do mar pelo despejo químico da fábrica Chisso vinha causando muitos problemas. De 1932 a 1968, a Chisso utilizou mercúrio inorgânico como catalisador na fabricação do aldeído acético, que é a matéria prima do ácido acético e do cloreto de vinil, e o resíduos dos produtos foram lançados no mar sem quase nenhum tipo de tratamento até 1966.
A empresa Chisso não interrompeu as operações, mesmo depois de descobrir que os efluentes da fábrica eram as causas da doença de Minamata. Por isso, a falta de ética corporativa da indústria Chisso foi severamente criticada na primeira decisão do tribunal da doença de Minamata.
5. Como está a empresa Chisso atualmente?
A Chisso criou uma nova empresa, a JNC Corporation, de acordo com a "Lei sobre Medidas Especiais para o Auxílio das Vítimas da Doença de Minamata e a Resolução do Problema da Doença de Minamata". Em abril de 2012, o departamento de fabricação, que estava conduzido pela Chisso Corporation, foi transferido para a JNC Corporation. Chisso Corporation é responsável pelo pagamento da indenização pela Doença de Minamata.
A JNC está sediada em Tóquio e tem fábricas nas províncias de Minamata, Chiba, Okayama, Shiga, Fukuoka e Mie. As empresas do grupo JNC também estão localizadas no exterior, nos EUA e na China. Os principais produtos da fábrica Minamata são cristais líquidos, conservantes, hidratantes, fertilizantes químicos e resinas sintéticas. A fábrica emprega cerca de 600 pessoas, e ainda é uma grande empresa em Minamata. Em particular, cerca de 40% dos cristais líquidos utilizados no mundo são produzidos na fábrica de Minamata.
Chisso tem uma grande responsabilidade como a empresa responsável pela doença de Minamata. O governo e a prefeitura de Kumamoto têm fornecido apoio financeiro à Chisso através da emissão de títulos da prefeitura desde 1978, quando a situação financeira da empresa se deteriorou após 1975 e temia-se que ela não pudesse pagar indenização aos pacientes. No final de março de 2018, o montante total de empréstimos públicos totalizou aproximadamente ¥665,2 bilhões, dos quais o Chisso deverá reembolsar aproximadamente ¥252,1 bilhões.
6. Como que está a baía de Minamata?
A Província de Kumamoto passou 13 anos dragando e recuperando o lodo de mercúrio depositado na Baía de Minamata, com uma concentração de mais de 25 ppm. E foram gastos 48,5 bilhões de ienes. Como resultado, foram recuperados 58 hectares de terra na Baía de Minamata. A qualidade da água da Baía de Minamata é uma das mais limpas da Província de Kumamoto em termos de clareza e baixos níveis de poluição, portanto não há nada com que se preocupar ao nadar ou brincar na baía. Em 1974, para evitar a disseminação de peixes contaminados e para aliviar as preocupações da população da prefeitura, o governo montou uma rede de barreira na entrada da baía de Minamata e, com a cooperação da associação de pescadores, capturaram os peixes contaminados da baía. Os peixes foram comprados e descartados pela Chisso. Os peixes contaminados com mercúrio foram colocados em tambores e enterrados em um aterro sanitário.
Os peixes contaminados com mercúrio foram colocados em tambores e enterrados em um aterro sanitário. Após Chisso ter interrompido a produção de aldeído acético em 1968, os níveis de mercúrio na Baía de Minamata continuaram a cair, e em outubro de 1994 uma pesquisa da Prefeitura de Kumamoto confirmou que nenhuma espécie de peixe tinha níveis médios que não excedem as normas provisórias nacionais (0,4 ppm de mercúrio total e 0,3 ppm de metil-mercúrio). Por este motivo, em julho de 1997, o governador da província de Kumamoto declarou a pesca segura, e em outubro as redes divisórias foram removidas. No que diz respeito à segurança dos peixes, os peixes na baía de Minamata são agora os mesmos que em qualquer outra área marítima.
Desde a remoção das redes, têm sido realizado regularmente pesquisas de mercúrio de peixes e crustáceos na Baía de Minamata. Os dados sobre a saúde do mar de Minamata e dos residentes locais, que sofreram uma destruição ambiental maciça, devem ser amplamente compartilhados com o mundo e usados como uma lição da doença de Minamata. Por esta razão, é desejável um monitoramento de longo prazo. A lição para todos nós é que a natureza, uma vez destruída, não pode ser recuperada durante um longo período de tempo.
As bordas do aterro são separadas por estacas de chapa de aço, que se deterioraram com o tempo. Então, a Prefeitura de Kumamoto está pesquisando maneiras de evitar que o lodo de mercúrio retido no aterro de lixo volte a fluir para o mar.
7. Como os pacientes estão sendo indenizados?
Em março de 1973, o julgamento da doença de Minamata foi ganho pelos pacientes e em julho do mesmo ano, com base em negociações diretas com o presidente da Chisso, foi concluído um acordo de indenização entre os pacientes e a empresa Chisso. Sob este acordo, a empresa Chisso pagou uma quantia fixa de 16-18 milhões de ienes por indenização para os contaminados. Além disso, pensões, despesas médicas, subsídios médicos, assistência de enfermagem, despesas funerárias, tratamento termal e tratamento de acupuntura são pagos. Os juros do fundo acumulados pela a empresa Chisso pagam o subsídio para fraldas, subsídio para acompanhantes, incenso, massagem terapêutica e transporte para visitas hospitalares.
Além da compensação acima para as vítimas, as prefeituras de Kumamoto e Kagoshima fazem Projeto de Medidas Abrangentes de Cuidados Médicos para a Doença de Minamata. Aqueles que tiveram deficiências físicas devido a contaminação, tais como distúrbio sensorial com predominância de membros periféricos , ou um alto consumo de peixes e mariscos, as prefeituras emitem um seguro de saúde, e pagam suas despesas médicas e uma mesada em torno de (17.200-23.500 ienes para hospitalização ou tratamento ambulatorial: a partir de 2016).
Além disso, em 1995, a empresa Chisso pagou uma quantia fixa de 2,6 milhões de ienes na condição de que não houvesse mais disputas sobre indenizações; em 2010, sob a Lei de Medidas Especiais de Doenças de Minamata, foi feito um pagamento fixo de 2,1 milhões de ienes sob condições semelhantes.
8. O que os pacientes têm pedido?
Já se passaram mais de 60 anos desde o surto da doença de Minamata. Os doentes de Minamata, passaram os últimos 60 anos com uma série de dificuldades e lutas. Durante as negociações com Chisso e o governo, os pacientes exigiram que Chisso e o governo reconhecessem sua responsabilidade por causar a doença de Minamata e por negligenciar as contaminações, e queriam que pedissem desculpas sinceras aos seres humanos. Eles também exigiram que os danos causados fossem revelados e que os pacientes recebessem auxílio imediato. Pois estavam isolados da comunidade, e insistiram no fato de que eles também são cidadãos e seres humanos.
A doença de Minamata não tem uma cura fundamentada. Muitos pacientes têm que ir ao hospital para tratamento sintomático, para aliviar a dor ou para recuperar os movimentos. À medida que a população envelhece, cada vez mais pessoas estão vivendo em suas próprias casas ou em instituições onde recebem os cuidados. O desejo dos pacientes de viver em segurança na comunidade tornou-se uma questão comum na sociedade em envelhecimento, independentemente de terem ou não a doença de Minamata. Normalmente, as pessoas que são fisicamente ativas fazem o trabalho que podem todos os dias. A agricultura e a pesca são um trabalho árduo, mas também proporcionam reabilitação. Algumas pessoas trabalham em empresas. Cada um deles está vivendo de alguma forma com a doença. Entretanto, ainda há preconceito e falta de compreensão, e alguns pacientes escondem o fato de terem a doença de seus parentes e familiares. Por outro lado, alguns pacientes estão tomando medidas para contar sua própria história da doença e para transmitir a experiência e as lições à próxima geração, porque sentem que os problemas não devem ser repetidos.
O que os pacientes nos pedem para fazer é lembrar as vítimas de nossa busca de riqueza material e da destruição de nossa conexão com a natureza, e continuar pensando no que devemos fazer no futuro.
9. O que significa "Moyai-naoshi" ?
A palavra "Moyai" originalmente significa "conectar um navio ao outro" ou "fazer algo em conjunto". Em Minamata, onde a relação entre as pessoas e a natureza foi rompida, a iniciativa de enfrentar frente a doença e de se engajar no diálogo e na colaboração foi denominada de "Moyai-naoshi".
Na época do surto da doença, suspeitavam de ser uma doença contagiosa ou desconhecida, e os pacientes passaram por um período muito difícil, por exemplo, recusaram-se a socializar com seus vizinhos. Mais tarde, quando ficou claro que a causa era o mercúrio no efluente da empresa Chisso, os pacientes foram marginalizados por cidadãos que dependiam de seus empregos na empresa Chisso.
Também houve discriminação e assédio em relação à indenização, circulando rumores de que alguns dos pacientes que solicitaram a indenizacao eram “falsos doentes". Como a causa da doença era o efluente da Chisso, do qual a cidade de Minamata tinha sido economicamente dependente, e como a doença coincidiu com uma grande disputa trabalhista, houve um conflito intenso entre os residentes. Portanto, houve um longo período em que o diálogo com pessoas em diferentes posições foi interrompido.
Entretanto, nos últimos anos, após superar esses erros e perceber que "nada pode vir do confronto", o governo, os cidadãos e as vítimas têm trabalhado para o renascimento de Minamata através de uma série de diálogos e eventos.
10. O que a doença de Minamata nos ensina?
A doença de Minamata foi causada pela contaminação da água por metil mercúrio liberado pela Chisso e pelo consumo de peixe contaminado, o que também causou conflitos entre as pessoas.
Com isto, Minamata aprendeu a importância da "água" e dos "alimentos" como fonte de vida. Aprendemos também que os resíduos produzidos pelas residências e empresas não devem ser eliminados de forma prejudicial à natureza.
A produção, o consumo e o descarte em massa tornaram nossas vidas mais convenientes, mas também estamos cercados por fumaças emitidas pelos veículos, agrotóxicos, conservantes alimentares e muitas outras substâncias nocivas que estão destruindo o meio ambiente e nossa saúde. Para uma vida materialmente próspera não é possível sem o nosso relacionamento com o resto do mundo. A doença de Minamata nos ensina que somos tanto vítimas quanto perpetradores.
A doença de Minamata também nos ensina a importância de viver com a idéia de que somos mantidos vivos pela natureza e não a destruímos, ao pensar na nossa relação com as pessoas, os rios, o mar, na alimentação segura, na redução e reciclagem do lixo doméstico e industrial, e enfrentar os problemas locais sem desviar a atenção.
Minamata Disease Museum / Soshisha
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